sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Passou














Quem é ele? De onde vem tão vagaroso e frágil
Na decadência da duna pingando na terra
Coágulos em cera de vela enquanto apático berra
Palavras benéficas de um sonho bom e afábil?!

Será um bêbado incômodo ausente dessa
Vergonha padrão com que o olhamos na confessa
Abundância da nossa índole postiça?
Não faço julgos na minha pressuposta preguiça.

Ele chega e agracia quem vai, mesmo dúbio, saudá-lo
Em seu calvário maculado de alegres abalos,
Queixa de dívidas. E percorre a praia ainda.

Vai-se sorrindo a nós e cai, enfadado no mar.
Reconheço-o indo com as ondas. Outro ano que finda,
Mas não sem antes clamar: Queira e estará. Sonhe e será!

Feliz ano novo.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

... a um só tempo em um abraço estreito... *












*Ausência - Ednardo

Doce lamento

*












Desafio vir a mim quem não mantém o túmulo
De uma Esperança sepultada pelo vocábulo
Desisto. Um cemitério, uma vastidão de esperas
Podres é o sórdido que sou pela Cólera!

Quando a Esperança morre só nos restar crer nos filhos.
Versos brancos de uma música sem estribilho,
Meus filhos. Caras Estranhos, é o que podem ser
Olhando mais inertes do que eu ao meu cadáver.

Perdoa a poética Senhor, mas a Divindade
De Pedro me conforta. Peco em verdade
E cuspo três vezes o sangue lânguido entanguido.

Um vidro de Prescrição Médica é minha testemunha,
Que, traído pela elegância do vício, abuso da alcunha
De Crítico Ordinário do Homicida Líquido!

*na foto: Charles Bukowski
(1920/1994)

domingo, 26 de dezembro de 2010

The Rain, The Park, & Other Things (Flower Girl)

"A Chuva, O Parque & Outras Coisas" é um sucesso de 1967 single do grupo pop norte-americano The Cowsills. A melodia e a letra foram co-escritas por Artie Kornfield e Duboff Steve e registradas pelo Cowsills em 1967.

É fácil alguém que já assistiu Deby & Lóide, o difícil é quem goste*, e pode lembrar, mesmo que vagamente, dessa música no devaneio do Lóide, Jim Carrey, enquanto abraça a moça, luta com cozinheiros acrobatas e vê os seios da moça serem faróis.
Sempre gostei, nunca lembrei de procurar, até que numa quinta assistia despreocupadamente "Afinal, o que querem as mulheres", microssérie televisiva da Globo, mal sabia que era o último capítulo. Numa cena, os personagens principais, bêbados, em meio a gritos de "Amooor, Amooor, Amooor..." curtiam seu fundo musical que era a dita cuja do Deby & Lóide! Só que numa voz diferente da que eu lembrava, agora voz feminina. Ao mesmo tempo o personagem André Newman (analogia safada), acabei de achar aqui os nomes, descrevia Lívia, a representação do Amor, com versos da música Love Supreme:

 "Love is a sacred word.  Amor é uma palavra sagrada.
Love is the name of God.  Amor é o nome de Deus.

The entire universe was created with Love, 
O universo inteiro foi criado com Amor,
by Love, and in Love.  por Amor e no Amor.

Love is the beginning, 
Amor é o princípio,
Love is the continuation,  Amor é a continuação,
and Love is the end..."  e Amor é o fim...
 
O episódio todo foi bom, até deu vontade de assistir aos anteriores.
Enfim, achei a música. Dá uma nostalgia, rapaz. O bom é que eu não sei explicar, estou feliz e pronto.
 

É uma música estranha, e boa,

  

que fica melhor na voz do Arnaldo Baptista, ainda Mutante junto ao irmão e à Rita Lee, e no arranjo do Rogério Duprat. ^^

 

E aqui a cena da microssérie, o Fulano é o mesmo daquela outra série "Capitú". Fotografia caprichada.

 

* Eu gosto e rio muito.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Ícaro














Sou filho de Dédalo, artesão de maquinários,
Feitor do labirinto, e túmulo, do Minotauro.
No exílio por ajudar Ariadne e temerário
Do Rei Minos, do qual escondo algo que restauro.

Ao Pai nego-lhe respeito e por ser herdeiro
Pegarei seu invento anônimo que a Gramática
Não nomeara e o batizarei primeiro,
Chamando-o: "factóide esdrúxulo da prática".

Faço votos de sobrevivência diante
De um precipício. Irei o único avante,
Mas não sei por força ou pela raquítica do poeta.

Pai, deixe minhas asas ruflarem de Creta,
E reze que meu óbito seja mentira
Pelo intermédio vil do Sol em sua ira!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Le sommeil, de Dharílya Sales

http://dharilya.deviantart.com/





















Lolitas em sua maioria são personagens fofos, adoráveis e costumam trajar roupas que remetem a períodos históricos, com base na época Vitoriana, no Rococó, e/ou a ícones da infância. Note um subtipo baseado nisso. O "kawaii" é subentendido, quase obscuro, diante do teor monocromático e nostálgico mostrado na modéstia e na onipresente elegância que todas elas têm.

Em lolitas nesse caso não noto seu real caráter. Estão no limiar do infantil com a imagem adulta, podendo um valor mascarar o outro em gestos, roupas e símbolos perceptíveis ao espectador ligeiro e bem claros para quem se preste a observá-los. Elas não têm preocupação, sua existência se explica, simplesmente, em se manifestar com seu estilo e inocência.

Estamos diante de uma ilustração. Desconsiderem a ocupação da obra no espaço branco e o que foi ilustrado, há motivos para estar assim, o foco aqui não é sua origem e sim seu fim.

Vê-se influências de Mark Ryden na composição geral, Naoko Takeuchi nas formas e Todd McFarlane na artefinal.

A lolita ser ela por ela mesma indica seu aspecto introspectivo e é utilizado um material rígido para fortalecer o grau de introspecção na construção da boneca. A nanquim não permite erros em sua completude, só a tinta branca o corrige, e sua maleabilidade só admite sombras por hachura, por exemplo.

A nanquim utilizada mostra a afinidade que a autora tem com o material de forma que todas as linhas são sóbrias, não há excedentes e vale-se delas para produzir volume no que seria superfície no seu vestido e cabelo. A gestalt da cidade maximiza o sentimento de perda/falta também demonstrada gestualmente ao agarrar o brinquedo, item essencial para a composição, atente ao seu semblante.

O vermelho contrasta com toda a obra, que mórbida como uma pessoa em sono profundo, resgata a vida da personagem, mas que escorre encarnado por seus olhos como uma paixão que lhe é levada.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Humilde pessimista














Bom dia se ainda for dia. Com sua licença
Eu poderia passar? Só afastar um pouco.
É que eu tenho um problema sério de nascença.
Obrigado. Por parte de pai sou até meio mouco.

Que horas são, por favor? Pronto, já perdi tudo.
Você não se importa, não é? É que eu adoro quando
Aparecem para conversar. Sim, são meus estudos,
Mesmo tardios eu continuo atrás miserando.

Obrigado, mas pode ficar, não gosto muito de ler,
É que tenho enxaqueca, fico tonto só em querer
Ler um livro. Eu? Desço ali na padaria.

Desculpa continuar falando desses planos
Frustrados, é que pesa muito meus vinte anos.
Desço aqui. Até jamais e bom dia se ainda for dia.